Wednesday, October 27, 2010
Monday, October 25, 2010
Thursday, October 14, 2010
Friday, October 08, 2010
Monday, October 04, 2010
‘vó, o que é a loucura?
Ora, vê no dicionário.
Já vi… hesito. Não chega. Apresso-me a continuar. Já procurei em todos os livros lá de casa. Não me dizem o que quero saber.
Um canto trémulo na boca da mulher entretida a tricotar. Estranho. Que quer o meu pequeno cavaleiro saber que não venha em todos os bons livros que tem?
‘vó… avanço e sento-me à frente da mulher, olhos resolutos fixados nas lentes que a ajudam a passar as malhas. Eu quero saber o que é a loucura cá dentro. Uma dor de cabeça, um aperto no estômago? Nunca vi a Avó doente e ainda assim… calo-me.
… e ainda assim a tua mãe diz-te que minha doença é a loucura, não é verdade, meu querido?, completa, a voz doce e traquina de sempre. Cujas imperceptíveis traições só bem mais tarde consegui identificar. Pousa as agulhas e as lãs no regaço. Não é uma dor. És tu. É a tua imaginação ser maior que tu, tão maior que te sentes como uma gotinha de chuva no oceano. O teu mundo muda e não tens limites nem fronteiras. E sem limites e sem fronteiras a imaginação cresce mais ainda e muda o teu mundo outra vez, e outra, e outra. Lembras-te de que te sentias como uma gotinha de chuva? Pois essa gotinha de chuva não demora a embalar nas correntes do oceano e esquecer-se que o mundo mudou. É confortável, apaziguador, fácil – só tens de te deixar levar pelas correntes do oceano.
Fechara os olhos pouco após as primeiras palavras. Parecia ausente. Mas eu era demasiado curioso. Não percebo, ‘vó. Eu gosto de flutuar quando estou no mar. E a Mamã até se ri e diz que pareço um peixe-estrela.
Ah, meu pequeno cavaleiro, este oceano de que falo não está numa praia. Está aqui dentro, abre os olhos e aponta para a sua própria fronte, como eu também estou aqui dentro. Agora. Porque a loucura é esse oceano tornar-se em ti e perderes-te nele. Pode mesmo deixar de se estar lá, sabes, nunca mais voltar. Assim mesmo, em tom conversador, tom de quem conta uma história que conhece bem a alguém que sabe estar a ouvir.
Como sempre, genuinamente interessado, estou. Rogo-lhe, A Avó voltou?, que a não guarde para si apenas.
Mais ou menos. Digamos que a gotinha de chuva se lembrou que não era suposto ter tanto sal nela. E assim conseguiu chegar à tona e manter-se lá. Infelizmente, nunca evaporou de novo para as nuvens. Aprendeu a viver entre os dois mundos; uma vez mais ligada a um, outra mais ligada a outro. E esse passou a ser o seu novo mundo.
Sunday, October 03, 2010
Friday, October 01, 2010
Deitada de costas, pernas e braços esticados e afastados do corpo, olhos fechados, ouvidos abertos, respirando devagar. Podia passar por estar a dormir; admitiria que quase estava se lho perguntassem. As lajes da varanda maior estavam mornas depois de um dia ao sol, emitindo aquela porção de calor agradável e constante que resiste às brisas outonais e se mantém, pairando, sobre elas até o frio do entardecer se lhe sobrepor. Melhor ainda, que ao corpo se transmite se imóvel, relaxado, paciente. Que sorrateiramente embala e o tempo suspende. Que... [sorrio, sem embaraço] - esqueci-me do que ia contar.
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