Saturday, December 29, 2007


















Sempre me perguntei o que há do outro lado.
Mas, se depender de mim, não será hoje que irei descobrir.

Tuesday, December 18, 2007





















Sopro de vida
Dado inconsciente…
Assim permanece,
Assim se faz gente.

Sorriso maroto
É sem tréguas que diz:
“Venturoso quem parte
Porque assim o quis.

Desprende os laços,
Permite-te saltar;
Chão firme engana;
Procura sonhar.”

No meio da urbe,
Arde com as demais
A chama que é sua,
Combustão dos sinais.

Pertence o destino
A quem lá chega,
Deixá-lo acontecer
Também talvez deva.

Sopro na chama,
Vacila irrequieta:
Murmura piano
Sua ambição secreta.

Dança sedutora
E volto a soprar;
Adeus, chama minha
Brilha noutro lugar.

Friday, November 30, 2007



















People.

I hate their smiles. The way they do it so easily and with no apparent effort.
I hate their laughs. The ones that may come after anything they do and sound free of everything.
I hate their walk. Because every single step I take will never get me to where they are.
I hate when they talk. They break my silence and force me to listen to what I cannot say.
I hate their hands. Seeing them makes me want their arms and chest to hug me.
I hate to be hugged. It reminds me of how weak I am to stand affection.
I hate when they are here. They invade the space I would like to be mine alone and remind me of what I would like to be like.

Sunday, November 11, 2007



























There she stands afraid of what lies ahead.
But there is no going back now. There has never been.
A strong resolve. It is all it takes.

Too many doubts have kept her from going further, though. For too much importance was given to what necessary is not: caring to explain. The why - the how - the when - the whom. Meanings shall be kept to the self. It took nobody giving a damn about it to realise the obvious. A cheap price for an answer, one could say. In the end, it did not hurt. - That - did not hurt.

Well, pain is bearable, anyway; it has always been. As so is losing herself in faint hints of despair and using the first to deal with the latter. But meanings - meanings shall be kept to the self. May the last smile she held on her eyes be the only true giveaway of her decision.

Which has already been made. Despite all doubts.

A sigh escapes her lips as her eyelids shut close. Let them fade away as the gentle breeze messes with her hair and feels cool against her skin.

One step. Forward.

Another. Towards that oh so seductive sound of waves splashing on the sand and wind blowing hard on the trees. Away from all those shades of grey she has become used to call herself.

A single tear is shed when she opens her eyes again and notices her feet running. There is no going back.

A strong resolve. It is all it takes.

One last step. Then, it is over.

Finally, blissfully over.

Sunday, October 28, 2007



























Encosto a testa ao vidro frio da janela e perco-me na chuva que contra ele embate. Sinto que me falta qualquer coisa. Como se o que faço por algo fosse, esta vontade de caminhar um qualquer trilho a algures me levasse, o peso que trago no peito a desaparecer se dignasse. Vagueio despreocupadamente pelos assuntos da semana e dou por mim a rever palavras escritas brincando como sempre que comunicamos. Suspiro, e rio-me por o fazer. Não era eu tão forte e racional, sem necessidade de tais frivolidades? Para agora me achar assim melancólica, pensando no que não tenho, me faz falta e, afinal, até sei o que é.

O teu vulto, aproximando-se para me abraçar,
encostar-se contra mim, o queixo no meu ombro
e simplesmente assim se deixar estar.

Talvez, tão mais que somente talvez, tenha contigo ficado um pouquinho do que sou, com tudo o que gostaria de ser; e que, porque ficaste, não pude trazer.

Monday, October 15, 2007



























Dançam sombras no chão a meu lado e pergunto-me a quem pertencem. Se aos meus olhos cegos pelo ciano, se aos negros vultos que contra ele se recortam. Lá de cima, de onde sub-repticiamente lançam demorados e curiosos olhares, voam em círculos desorganizados guardando respeitosa distância dos seus interesses e pacientemente aguardando o desfecho da sua criação. Cobardes, não se atreverão a descer até então.

Pesam nas pálpebras derramadas lágrimas de outrem perante a inequivocidade do confronto. Premonição amarga e indesejada, porque te não calaste nem recolheste à decência da fantasia se fantasiando apareceste. Poderia ter a surpresa sido tua herdeira e desempenhar o mesmo papel assassino sem a dor da certeza de antemão. Mas, não quiseste. E fizeste-te anunciar com hinos de desgraça.

Espreita tímida a resignação; antes, a submissão; à impossibilidade de ser. De estar; de sentir; de esquecer. E eles voam, demorados e expectantes, pairando sobre as trincheiras onde outros assistiram impotentes a um nós inexistente. Onde guerreámos infinitesimais esperanças por insanamente verdadeiros afectos. Onde hasteámos moribundos o pavilhão da separação e me deixei permanecer.

Tornam-se dormentes os sentidos; a vizinhança é relevada. Na heterogeneidade da informação bóia à tona a noção da sua presença e sinto-me tentada a mergulhar em águas profundas. A dor é, contudo, real quando eles se aproximam e principiam a única utilidade que lhes foi dada: poupar devorando resquícios de anomalias: misericórdia. Não lhes exijam mais porque o não entendem. Não lhes peçam menos porque o não podem.

Escolhi jazer onde me vissem, recebo de bom grado o escárnio se me permitir uma desculpa para morrer.

Saturday, July 07, 2007



























Entangueço, e sei-te iminente sem estares.
Adocicado, frutado, inebriante;
Outono de aguaceiros ferozes cravados na nossa pele.
Sentidos que despertam do torpor da consciência e clamam por ti.
Porque te denuncias inocente na indolente
brisa que me acaricia o rosto e promíscua
me envolve em ti.
Murmúrios… de intrépidos lábios selados
de errantes mãos e venturosas conquistas
de atritos menores mas indubitável resolução
de irracional desgarrada e compassos pulsantes
de mútuo êxtase e ofegante repetição.
Desse teu odor em que voluntariamente
me viciei.
Porque a brisa o transporta entangueço,
E sei-te iminente sem estares.

Saturday, May 26, 2007



























Mudas, imutáveis, brancas; sempre brancas.
Ângulo giro e recorrente de cegueira, alva.
Espaço inóspito, indiscretos quadrantes, candura
Quase.
Duas braças de ar, a cruz do movimento.
Brancas, sempre brancas,
Elas que cuidam, segurança, contra
Quê.
Paredes que rodeiam, estrangulam, confinam,
Brancas, sempre brancas, a mim e a janela
Nenhuma.

Wednesday, May 16, 2007



























Time won’t be wasted, just a look of disgust
Is all they allow to those rags covered with dust.

Pace then gets quicker and eyes look away
But she is still there, yet another shadow of grey.

Her strings are down and she cannot stand,
So she keeps staring at the sky, looking for his hand.

Eyes wide open despite the rain:
She does believe she’ll be with him again.

A figure approaches and stops somewhat near,
His face all helpless pain, regret and fear.

Heart might be aching with tears she won’t shed
But mind is slowly fading, and senses are thus dead.

So when I pick her up and look into her eyes
I can now only see sorrow and a will full of goodbyes.

In the middle of rain, there’s a painful cry I can hear
And suddenly I realize twilight has also come
To Mr. Puppeteer.

Tuesday, April 03, 2007




















Há muito, muito tempo, vivia uma menina, lá para os lados da praia, que era assim parecida contigo: de mãos e pés pequeninos, cabeça redondinha, orelhas, nariz e sonhos grandes. Porque ela sonhava muito. Se calhar era porque dormia muito, diziam alguns, mas eu acho que era porque ela gostava muito de sonhar. Tanto, que nem se apercebia de que a vida dela não tinha nada que ver com esses sonhos. Lá neles, onde ela gostava de estar, a maré-cheia nunca vazava nem as gaivotas se calavam quando recolhiam a terra para se abrigarem de mais uma tempestade. E as pessoas ficavam também recolhidas em casa com medo dessa tempestade, e os barcos não saíam do porto, e só havia as gaivotas no pontão a fazerem barulho. Então, ela ia para lá, debaixo de chuva forte e fria como o vento que assobiava por entre os barcos e as ondas que se levantavam contra eles. Oh, ela não desejava que os barcos fossem despedaçados pelas vagas nem levados lá para longe, para o alto-mar onde ela gostava de estar, não. Mas gostava de os ver dançar na espuma que rebentava contra o paredão que protegia as casas e a lota, as cores garridas dos cascos flutuando de cabo laço e os mastros de velas recolhidas quase se tocando fustigados pelo vento. Ela achava bonito. Agachada contra uma parede qualquer, meia escondida dentro do oleado amarelo de pescador, lá ia afastando o cabelo molhado, sem caracóis e mais escuro de tão escorrido, da carita que entretanto ficava vermelha do frio que fazia. E, se as nuvens cobriam o céu e o tornavam cinzento quase noite, os olhitos dela não tardavam a fechar-se também embalados por todos aqueles barulhos próprios do mar e que só se escutam quando se sabe que ele não está zangado.

Mas, isso era só quando ela sonhava, porque geralmente não havia gaivotas a fazer barulho nem ondas cheias de espuma ou nuvens carregadas de chuva na praia onde ela vivia. Lá, só havia areia branca fina e palmeiras carregadas de cocos e pessoas que não eram dali quase sem roupa nenhuma vestida e que andavam sempre com óculos de sol. Lá, o mar era azul clarinho, quase doente, às vezes um bocadinho verde de tanto não se mexer. Os peixes eram pequeninos e não havia conchas partidas na areia, só búzios assim de tamanho médio em que os turistas fingiam conseguir ouvir o mar enquanto sorriam muito parvos para as namoradas. A menina desta história abanava a cabeça ao ver tudo isto, pensando para si mesma que as coisas calmas não tinham graça nenhuma, é um desperdício perderem-se tantas coisas bonitas neste sossego deprimente. Bem, ela não dizia deprimente, achava apenas que era triste aquele sol radioso e amarelo e quente ter debaixo dele tanta falta de movimento, de cheiros e barulhos, ter debaixo dele tanta falta de vida. E, então, vinham-lhe outra vez aos olhos as marés vivas e as nuvens altas e gordas que ela sabia carregadas de chuva, e ela desejava que o vento também se não demorasse muito e pudesse outra vez começar a chover. É que, perdida nestas suas ideias de menina sonhadora, ela virava solenemente as costas ao que meio mundo procura e abandonava-se sonhando que assim iria acordar.

Um dia, choveu lá onde ela vivia e ela sorriu, feliz, porque se beliscou e não estava a dormir.


___

– A tua história é muito triste.
– Porquê?
– Porque a menina gostava muito de uma coisa mas não a podia ter. Só podia sonhar com ela.
– E isso é mau?
– É. As pessoas só deviam sonhar com o que podem ter porque assim não andavam tristes por não poderem ter essas coisas.
– Talvez. Mas, diz-me, a que chamarias sonhar então?
– ...
– Então?
– Não sei.

Tuesday, February 27, 2007



























Indefinição. Papéis ao ar, diverte-te Bóreas. Tudo voa e eu gatinho impotente. Irritação.
Esta vontade de querer escrever mas não saber o quê, não uniformizar um como disperso numa torrente de fugazes ideias desmoralizantes do querer. Porque quero.

Mas não sei, não sei, não sei!

Pois tudo me soa vago e comum e perde o sentido se repenso a inquietação. Ficam apenas as métricas, órfãs de significado, esqueletos das palavras que escapam. E escorre indolente a areia da ampulheta sem que encontre.

A frase que não consegui.
A expressão pecadora da identidade.
O vocábulo despoletador do resto.
Qualquer coisa.
Quase desesperadamente qualquer coisa! Que na acalmia da imperfeição sei contudo não ser qualquer. Egoisticamente, que eu saiba minha e fale de mim. E que, falando, diga a exasperação de não saber o que dizer.

E que depois se cale e diga então que gostei.

Saturday, January 06, 2007

























Penso que naquela altura enviei, devidamente endossadas, todas as advertências para o monte de lixo mais próximo ao tirar do teu maço o único cigarro que contigo fumei. Misturando-se com o esparso nevoeiro de final de tarde, o fumo subia espiralando de mansinho, quase errático, dançando suavemente o principiar da estação. Nem o travo amargo que ia deixando dissimulava o quanto saboreei aquele momento. O silêncio que encontráramos assim permaneceu. Sagrado. Perdido na varanda com vista sobre a cidade. Que, genuinamente ruidosa na sua imperturbável agitação, não passa de um obituário de mudos desprezados por surdos e cegos, paralíticos na vã correria pela felicidade. Que é, orgulhosamente, mais evoluída que qualquer aldeia que exista ao seu lado, onde andam inequivocamente todos igualmente cansados e tresmalhados. Hipocrisias, de que tantos assustadoramente dependem. Nunca encaixámos nesse mundo de predeterminações asfixiantes. Oh, tentámos. E quantas vezes o resultado nos fez passar a barreira da angústia. Afinal, somos filhos da diferença. Por isso mesmo estávamos ali. Na nossa lucidez fomos loucos por defendê-la. O rei vai nu, sempre foi.

Foi na penumbra do beco que alucinei a saída, e a magnífica grade verde suportou o meu peso quando deixei tudo para trás. Flutuando na minha inconsciência, só queria poder voar ao teu encontro. Da tua despreocupação. Desse gesto de afastar que fazia os fantasmas correr. Não me deverias ter seguido.

Timestamps:strolling.