Friday, November 11, 2005


















Imagens deambulando livres pelo olhar, ruídos e melodias contrastantes em aparente e antagónica harmonia, imiscíveis odores pairando evasivamente. Delimitar o começo do sonho, inexistente espaço fronteiriço, e o desvanecer da realidade, ominoso sonho mascarado, hercúleo e desnecessário esforço seria. Quaisquer tentativas, vãs, de o fazer mais não permitiriam que reconstatar a frivolidade, a fealdade, a podridão da segunda, e a vital necessidade de no primeiro se refugiar. Demasiadas sendo as figuras construídas sobre primordiais almas puras, continuamente pelo hedonismo moldadas, pela avidez empedernidas, pela corrupção corroídas, pelo ódio desfiguradas, é eminente desejo a total abstracção e supra almejada a fuga. Espíritos conturbados em infrutíferas caminhadas se lançariam na busca de tais metas. Indubitável e óbvia é a resposta, serenamente reflectida num qualquer espelho, que da alma nenhuma cópia apresente, mas um seu mero esboço, pois necessário é que se aprenda a ver. Os olhos se cerrem, e se abra o espírito. Cessem os vagos devaneios da vida, alastrem as subjectivas emanações do viver. Tudo o mais deixe de importunar. De asas próprias há muito desprovidos, alado é o suposto aliado, que, por entre uma realidade de vazias existências, a tranquilidade permite, a escuridão da máscara perdoa. Sonho, que em ti divagando és encontrado, confundido, não raras as vezes, com a eterna efemeridade do ser realmente, quantas almas não já perdeste, quantas não farás ainda perder. Porque o rio corre, e atrás não volta. Triste é o Fado dos que nos teus mais recônditos meandros insensatamente se lançam, e presos ficam na implacável teia da ficção. Latente é a ironia intrínseca às distintas e ambíguas realidades da vida, que, inseparáveis, inequivocamente intransponíveis são. Se irreal é a vida a que desesperadamente fugir se tenta, irreal é, também, o sonho, cuja vivência se tenta alcançar, por, para o plano da terrena existência, ser transposto.

Criaturas espectrais sempre soubemos que somos. Cobre o véu da verdade que sobrenatural e incognoscível ente se divertirá a fazer-nos sofrer, retirando-nos a única alternativa que um dia, imbecilmente, pensámos possuir…

Sonha, ilude-te, e a realidade estará, mais áspera do que nunca, à tua espera…

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